O mercado de fitness e esportes, assim como várias outras áreas profissionais, também teve uma trajetória inicial masculinizada. A participação das mulheres era muito pontual, como por exemplo a área escolar, na qual desenvolviam com maestria o trabalho pedagógico. O mercado de academias era controlado, quase em sua totalidade, por homens e a cultura machista impedia a entrada da mulher na sala de musculação, deixando a ginástica como alternativa de trabalho para as professoras.
Com pouco espaço de atuação essas profissionais tiveram que vencer as barreiras preconceituosas com muito comprometimento, técnica e capacidade de se relacionar bem. O conselheiro do CREF7, Lúcio Rogério, foi o primeiro presidente do CREF no Distrito Federal. A resistência e a persistência da mulher nesse processo histórico, comenta Lúcio, permitiram que “hoje encontremos um empate na quantidade e qualidade das carreiras da Educação Física. Quebrando assim as barreiras culturais que haviam no início”.
Quando a profissão se regulamentou em 1998, haviam muitas lacunas a serem preenchidas pela mulher, principalmente na musculação e no desporto. E não foi diferente na ocupação das cadeiras do Conselho. “Houve uma absorção da cultura machista da época”, afirma o Conselheiro e “o CREF7, ainda como seccional do CREF6, foi a primeira unidade do sistema a buscar mulheres para compor o cargo de conselheiro. E elas fizeram a diferença”, acrescenta Lúcio.
Com a evolução da preocupação com a beleza, a saúde e o bem estar, o publico feminino passou a incorporar a atividade física na rotina do dia-a-dia. A clientela feminina e os movimentos de inserção e valorização da mulher no mercado de trabalho também inspirou muitas delas para a Educação Física.
Andreza Sousa Almeida é arbita internacional desde 2009. Segundo ela, hoje são 6 mulheres atuando no NBB, maior competição de basquete no Brasil. Mas por serem competições masculinas, o desafio de mostrar a competência sempre esteve presente.
“as pessoas estão nos respeitando não pelo nosso gênero, e sim pelas nossas capacidades e conhecimentos”. Andreza Sousa Almeida
Andreza Sousa - foto arquivo pessoal
O profissional de Educação Física Helder Rodrigo, consultor da área, explica que existe pressão para que a mulher mostre sua qualidade de serviço. “Já vi casos que as pessoas comentam que uma determinada personal tem mais procura só porque é bonita, e ela tem que ficar provando a sua capacidade técnica”, comenta Helder.
A profissional Mirela Lettieri, com 31 anos de profissão, continua inspirada e apaixonada com o que faz. Segundo ela, a mulher, sendo bonita, passa infelizmente por esse tipo de desconfiança. A comparação, também foi um desafio na carreira, levantando questões, como por exemplo, se ela teria força para ajudar em um exercício com supino. Mas para Mirela, isso já foi superado porque a medida que a profissional vai obtendo resultados com seus alunos e demonstra como o seu conhecimento foi usado par alcança-los, as tentativas de comparação vão sumindo e dão espaço à admiração.
Mirela Lettieri - foto arquivo pessoal
A demanda por profissionais mulheres é um movimento com espaço para crescer, porém ainda passa por preconceitos. A Conselheira do CREF7, Any Shirley, percebe que existe uma tendência das alunas para buscar a orientação do homem e quando a profissional é mulher, o nível de exigência do público feminino é muito maior, obrigando as profissionais a provarem suas capacidades o tempo todo.
Any Shirley - foto arquivo pessoal
A professora Márcia Rosa lidera um trabalho no segmento de clube de corridas, com 10 anos de profissão ela explica que passou por um início de carreira difícil e que o preconceito vinha da parte das mulheres também, o que era mais preocupante. No entanto, as duas são unânimes em reconhecer que esse desafio fez pressão para elas se empenharem e estudarem mais, e, de forma geral, a serem mais eficientes. Junto com essa eficiência, veio o melhor fruto: o reconhecimento.
Márcia Rosa - foto arquivo pessoal
Mas a vida das mulheres no nosso segmento não é só desafios, elas também possuem trunfos inquestionáveis. Para a Vice-Presidente do CREF7, Nicole Christine Azevedo, a sensibilidade feminina ajuda na percepção melhor do aluno e “essa capacidade possibilita perceber não só as necessidades, mas também as coisas que o aluno não diz, principalmente quando é mulher. É a visão do “ser, humano” que só a mulher consegue fazer com excelência, complementa o conselheiro Márcio Padilha. Tanto ele como o conselheiro Lúcio Rogério, dividem a opinião de que a mulher já nasce com esse pré-requisito preenchido. Ela chega ao mundo preparada para ser mãe, “o cuidado, a atenção e o trato com as pessoas são supreendentes”, diz Padilha.
Nicole Christine - foto Agência EIXO
Dayane Santos - foto arquivo pessoal
A conselheira Dayane Santos, vê também que este instinto funciona como um grande diferencial das mulheres e traz benefícios aos alunos, começando pela segurança nos treinos.
Outro trunfo da mulher é nas situações com maridos ciumentos e naquelas em que as alunas querem ficar mais à vontade no treino. Esses também foram os motivos que levaram a profissional Débora Flores a direcionar seu foco de atuação exclusivamente para o público feminino, porque, segundo ela, a mulher sabe entender melhor o corpo da outra mulher. Uma lógica que tem sido defendida por muitas pessoas e que aumenta a adesão quando a idade vai subindo.
Débora Flores - foto arquivo pessoal
E esse é um cenário que está ficando cada vez melhor. Hoje as mulheres representam 33% do total de profissionais registrados no DF. Na atual diretoria executiva do CREF, a quantidade é maior, 4 mulheres e 3 homens, e na gestão passada o comando estava com liderança feminina. “O CREF7 sempre respeitou muito as mulheres, na gestão anterior a nossa, a presidência, vice-presidência e segundo vice eram cargos ocupados por mulheres” comenta Patrick Aguiar, presidente do CREF7.
Segundo Patrick, essa presença continua sendo valorizada na atual gestão, principalmente porque são mulheres fortes, eficientes, e com trajetória inspiradora. A influência delas na profissão traz novos pontos de vista e abre diversas oportunidades para o mercado. As posições que elas ocupam são estratégicas, inclusive, a Professora Kátia Maria, profissional respeitada por seu trabalho, é a nossa tesoureira, a Nicole Christine ocupa a vice-presidência com firmeza e dedicação, e a Any Shirley e a Dayane Santos têm feito a diferença nos apoiando como 1a e 2a Secretárias”.
Kátia Maria na cerimônia de posse - foto Agência EIXO
Patrick também chama atenção para a área científica. “O ConCREF7, evento realizado desde 2011 e pioneiro no sistema, oferece prêmios em dinheiro aos trabalhos acadêmicos mais relevantes para a profissão e a presença feminina nas premiações é cada vez maior. Prova disso é que em 2017, metade dos trabalhos premiados eram de mulheres”, comenta o Presidente.
Premiados ConCREF7 2017 - foto Fábio Pinheiro
Então hoje, no dia 08 de março, queremos parabenizar nossas mulheres pela persistência, a capacidade de lidar com as obrigações familiares e, ao mesmo tempo, com os desafios da profissão, e por executarem um trabalho diferenciado, com o toque e a sensibilidade única feminina. Aproveitamos também para inspirar mais mulheres a participarem desse projeto transformador de vidas que é a Educação Física.